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# Sic Mundus Creatus Est #

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Como seria o mundo se você nunca tivesse existido? Faça esse exercício. Como a falta do impacto da sua presença afetaria o progresso do planeta? Desde pequenas coisas, até grandes decisões e atitudes. Quantas outras vidas seriam ou deixariam de ser afetadas por você? Poucas? Muitas? Todas!? Bem, não é muito difícil chegar à, talvez, única resposta possível. A vida da maioria das pessoas, inclusive a sua, é absolutamente ordinária, dispensável e irremediavelmente insignificante. Talvez seja triste chegar a essa conclusão, mas o que chamamos de vida, história, legado.. um emaranhado de memórias desconexas e sem qualquer sentido ou propósito, é na verdade um sopro patético e descuidado do universo, e absolutamente nada nesse universo demanda sua existência, a não ser esse ciclo eterno de causalidades. Então, se não faz sentido, se não faz diferença, porquê então? Por que fazer compras, lavar roupa, apagar a luz, cortar as unhas, ter etiqueta, se apaixonar, tirar o lixo, passar filtro sola

# Sessão da Tarde #

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Você sabe como funciona, todo filme é assim. Existe aquele momento durante a saga do herói onde o protagonista, encurralado diante das suas incertezas, consternado e a um passo da derrota, tem aquela grande revelação, aquela mágica epifania, aquela... isso: de cabeça baixa, sentado na cama, chega até ele as palavras desafiadoras de My Way, na voz robusta de Frank Sinatra, através de seus vizinhos chineses que não fazem muita questão de manter o silêncio no prédio após as 22h; o detetive que se encontra em meio a um caso aparentemente sem solução, quando seu colega coadjuvante entra em cena e lhe entrega uma caneca de whisky dizendo que aquilo talvez o fará se sentir melhor, e após tomar um gole lento e desconsolado a música de suspense aumenta repentinamente, junto com seus olhos então arregalados, dá um beijo na bochecha do coadjuvante e dizendo que ele é um gênio e repetindo " é isso! era isso o tempo todo! grãos de trigo! trigo!" , ou; o lutador ensanguentado e caído

# Uma doença chamada ansiedade #

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A primeira história Em algum momento da vida, ainda bem jovem, jovem antes da gastrite se transformar em úlcera, eu percebi que toda vez que ficava nervosa eu começava a arrotar (bem delícia!). Com o passar do tempo e do estresse, aquele bofo inocente se transformou numa dor de estômago, de certa forma, tolerável. Mais algum tempo e eu passei a evitar qualquer tipo de discussão, de tomar a iniciativa, de me sentar na frente, de ser vista, etc. Fui me anulando aos poucos com uma devoção linda, era uma missão. O que obviamente não resolveu o problema, visto que hoje em dia qualquer mínima coisa me causa uma dor de estômago atordoante. Já poderia ter viajado pra Índia com o dinheiro gasto em ranitidina. A segunda história Um dia qualquer num emprego qualquer, planilhas, reuniões, prazos irreais, gente burra me dando ordens... todos os dias, meses e meses. Foi à tarde. Subitamente pensei que fosse desmaiar, a tela deu uma escurecida, mas eu sabia bem o que era. Meu coração sub

# Desconstrução Amarela #

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Relutei anos em abrir novamente essa porta. Fiquei meses entrando e saindo sem dizer uma palavra. Semanas tentando descobrir como melhorar o design e horas e horas com as mãos apoiadas no queixo olhando para uma tela em branco. Certa vez ganhei o apelido "carinhoso" de Saturno [o grande e lento], mas acabei de me dar conta de que esse passo também faz parte da minha desconstrução.  Eu não sei exatamente por onde eu começo, são muitos começos, muitos. Mas alguma coisa me diz que tem haver com os buracos ao redor do terminal do Jardim Novo Mundo. Todo corpo inerte tente a permanecer inerte, certo? Houve muitos movimentos que levaram meu corpo a se mover, mas o maior impacto sem dúvida aconteceu num dia qualquer, na hora do rush, quando as minhas mãos e pés não conseguiam permanecer de forma segura em cima da moto, que balançava cada vez mais forte e rápido, me levando desnecessariamente a uma péssima experiência de um touro mecânico. Eu não caí da moto, mas as fichas sim.

[Você que ama o passado e que não vê]

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Há muito, muito tempo venho me esforçando para limpar essa bagunça. Muitas vezes, no meio da madrugada, me vem aquela ideia, aquele rompante de "eu podia escrever isso". Perdi as contas de quantas vezes passei por aqui, dei aquela olhadinha sem compromisso, fechei a porta novamente e logo tratei de encontrar outra coisa mais importante para fazer. "Aqui" é a definição perfeita de quartinho da bagunça . Aquele onde você guarda fios e cabos pra se um dia precisar, livros que nunca mais vai ler, sacolas de tamanhos diversos para carregar vários nadas, algumas roupas velhas, caixas e caixas de entulhos em geral. Todas as coisas cujo você acredita ter uma utilidade futura, mas que é difícil se desfazer por conta de uma estranha ligação afetiva. Eu fico relendo coisas que andei escrevendo por aqui há quase dez anos atrás e pensando o quanto eu era... só isso. O quanto eu era. Eu poderia simplesmente apagar tudo e começar do zero, mas olha só pras paredes? As prat

# Aqui dentro há um longe imenso #

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(Abrindo a porta, ela range, devagar e constante como o movimento. Abrindo, aberta. Sussurro baixinho: is there anybody here? Silêncio. Alguém aí?, insisto. Pé esquerdo, direito. Paro. Cheiro de gaveta, cheiro de guardado. ¿Alguien aquí? É bom falar línguas, nunca se sabe quando/se seu blog foi colonizado/invadido por falta de uso. Eu não sei falar russo. A poltrona ao lado da lareira se vira lentamente, lentamente, se virou. Ela está lá, da mesma forma. Cruza as pernas para o outro lado, toma mais um gole. Porque demorou tanto? Tudo bem, eu te explico. Cronologia... seria pedir muito? Seria.) Facebook. O Facebook é um lugar nojento, habitado pela escória, pela parte mais podre de cada um. Aquele lugar fede, é o esgoto da pior parte alguém que, claro, se sente totalmente à vontade para vomitar suas parvalidades (provavelmente essa palavra não existe) junto das outras tantas. É um horror. Dedicarei futuramente um laudo técnico constatando essas aberrações. Enquanto puder (conseguir)

Tal de andar

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Então, a frase será essa: eu preciso andar. E a sessão de hoje será insuportavelmente curta. É bem simples: significa mover-se, sair do lugar, mas eu gosto mesmo é dos termos "caminhar" e "andar", definem melhor. E quanto mais eu ando por aí, mais sou consumida por uma urgência que sapateia meus pés e desassossega minha mente. E não me importa a distância ou a direção, o que me interessa é simplesmente mover-me. O "movimento estático" também é muito importante, não fosse um paradoxo. Significa mover-se sem sair do lugar. Mover minha mente, mover minha alma. De alguma forma, bastante errada por sinal, eu sempre tento me mover, mas conseguir mesmo é outra crônica. Aristóteles dizia que havia certa divindade no movimento dos corpos celestes, caso contrário, como poderiam eles sair do lugar? O céu era, então, carregado por alma dos deuses mortos/vivos que fazia com que o firmamento dançasse ao som de flautas gregas. É, bem... bastante lírico. Mas deve mes