# Desconstrução Amarela #
Relutei anos em abrir novamente essa porta. Fiquei meses entrando e saindo sem dizer uma palavra. Semanas tentando descobrir como melhorar o design e horas e horas com as mãos apoiadas no queixo olhando para uma tela em branco. Certa vez ganhei o apelido "carinhoso" de Saturno [o grande e lento], mas acabei de me dar conta de que esse passo também faz parte da minha desconstrução. Eu não sei exatamente por onde eu começo, são muitos começos, muitos. Mas alguma coisa me diz que tem haver com os buracos ao redor do terminal do Jardim Novo Mundo.
Todo corpo inerte tente a permanecer inerte, certo? Houve muitos movimentos que levaram meu corpo a se mover, mas o maior impacto sem dúvida aconteceu num dia qualquer, na hora do rush, quando as minhas mãos e pés não conseguiam permanecer de forma segura em cima da moto, que balançava cada vez mais forte e rápido, me levando desnecessariamente a uma péssima experiência de um touro mecânico. Eu não caí da moto, mas as fichas sim.
Mas ainda antes disso, eu quero muito dizer a esse algorítimo frio que capta meus pensamentos, o que aconteceu quando-[abertura de filme do Tarantino]- "o que aconteceu quando eu fiquei (tentei ficar) um mês sem reclamar".
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O que aconteceu quando eu fiquei (tentei ficar) um mês sem reclamar.
Foi provavelmente uma das decisões mais estúpidas que eu poderia tomar. Descobri que não fazia ideia de quanto tempo dura um mês e que, nessas condições, definitivamente não são 30 dias.
Resumidamente foi isso: perdi 15 quilos (não em 30 dias, claro), fui promovida no trabalho, me casei, paguei todas as minhas dívidas e iniciei o processo de planejamento da minha vida em outro país. Basicamente um case de sucesso da Universal. Independente da tortura, deu tudo certo no final, certo? A resposta é um sonoro sim! Mas eu jamais faria isso novamente.
É sabido que eu sou "meticulosamente pessimista", de dar enjoo e ânsias de vômito (não em mim). O meu pessimismo é estruturado, equilibrado (acho) e absolutamente racional. Acontece que em certa altura, dentro da minha humilde e pequena filosofia, ele começou a se tornar um grave empecilho para a realização de, em primeiro momento, pequenas coisas cotidianas, como sair de casa, até grandes problemas sociais, como sair de casa!
E então, já no limite, me propus esse arriscado exercício de tentar enxergar o copo meio cheio, de perceber e promover as pequenas coisas, de ouvir mais, de olhar mais nos olhos, ser e promover empatia, suspender julgamentos, de tentar entender a "intenção positiva" das coisas, etc, etc, etc. Enfim, mais humanidade e menos sociopatia.
Já nos primeiros dias eu queria me matar. Você não faz ideia da força que se deve fazer para não julgar outra pessoa. Não julgar é como pedir para que você "desveja" uma foto ou: não pense na cor amarela. Você consegue? O julgamento é inerente do ser humano, eu não tenho dúvida disso. Muito provavelmente porque nossos antepassados precisavam dessa característica básica e primária para tomar rápidas decisões a fim de proteger os seus ou a si mesmo (sei lá).
Eu aprendi que o julgamento nada mais é que igualar, uniformizar todas as pessoas com base nos MEUS conceitos e valores de mundo. Que o julgamento desumaniza o outro para que você possa apreciá-lo apenas através das suas próprias crenças. Quando eu percebi isso, me tornei a melhor ouvinte da face da Terra! E ouvir, minha senhora e meu senhor, aproxima as pessoas de uma forma do caralho! "Ouvir na essência" é uma frase até bem batida de coachs por aí, mas pensa na minha surpresa ao saber que isso é realmente possível! Daí pra frente é só alegria. Ou não.
Me doei muito nesse exercício, mas esqueci de me esvaziar durante o processo. Então você já imagina o que pode ter acontecido. Apesar de ter a aparência de um dinossauro, por alguma razão inexplicável, eu sou extremamente "sensível". Sensível no sentido da intensidade da qual sinto as coisas. Tudo é muito profundo, tudo é muito dentro, tudo é cade o cerne dessa questão? E a redoma que eu criei para "guardar" toda essa sensibilidade é feita de algum material aparentemente indestrutível. Aparentemente.
O que aconteceu depois disso é que eu desabei, desmontei, caí em mim mesma como um enorme castelo de cartas. Eu perdi, crianças, aquilo que chamamos de equilíbrio. Saí de um extremo para me aventurar marotamente no extremo oposto. O que eu esperava? De repente meu exercício havia perdido todo o sentido, tive milhões de crises de ansiedade e pânico até voltar novamente para meu lugar comum.
Mas algo ainda permaneceu em algum lugar dentro mim. E por mais que tenha sido inegavelmente doloroso, esse período certamente criou todo o cenário para que eu rompesse mais uma amarra e expandisse meu cérebro a caminho da "desconstrução". Mas eu ainda não sabia o que era isso, mas aqueles os buracos sim.
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(Escrevi isso daí de cima há cerca de três meses atrás. Definitivamente estava em outra vibe, outro momento, mas fora esse parágrafo desnecessário, vou tentar fazer com que você não perceba isso. Juro.)
Aconteceu então que estava voltando para casa. Conheci pessoas incríveis no meu antigo emprego e coisas igualmente incríveis me aconteceram (mas isso fica para outra postagem), mas o fato é que eu estava doente. Grande novidade! Mas essa maravilhosa doença que carrego dentro do meu cérebro desde criança resolveu se materializar sobre meu corpo, e esse excelente emprego que eu tinha ajudou muito a potencializar e, por que não dizer, dar o pontapé inicial.
Ainda voltando para casa. Então, nunca tive tantas crises de ansiedade e ataques de pânico em tão pouco tempo. Eu percebi que tinha algo muito, muito errado acontecendo e muito mais sério do que jamais foi. Fora isso, aquele meu descontentamento de sempre com as coisas todas foi ficando silenciosamente mais forte, até aquele fatídico dia em que eu quase caí da moto por conta dos buracos ao redor do terminal do Jardim Novo Mundo.
Eu gosto de pensar que o meu cérebro foi chacoalhado tantas vezes que quebrou, se rompeu. A cada novo buraco que os pneus passavam por cima, um parafuso a mais ia se desprendendo, uma certeza a mais ia se esfarelando e uma nova ideia ia se aproximando. Os óculos caindo dentro do capacete, meus dedos não alcançavam a embreagem nem o freio, meus pés não conseguiam ficar parados em cima dos pedais. Durante alguns segundos eu fiquei completamente cega de raiva, e isso foi ótimo, por que quando a visão voltou novamente tudo tinha mudado.
Cheguei em casa e disse: o que a gente ainda tá fazendo aqui? Por que ainda estamos aqui? Ela disse algo sobre dinheiro. Eu falei que não precisávamos de dinheiro, precisávamos de coragem. Precisávamos apenas parar de nos enganar, de dizer que vai melhorar um dia, que vamos conseguir juntar grana e fazer não sei o que. Isso nunca iria acontecer. E quando eu falo de coragem, me refiro a coragem que se deve ter para admitir isso. Admitir que às vezes precisamos desistir de tudo para começar a criar uma nova história. E sem culpas nem remorsos. E admitimos, naquela noite maravilhosa.
E a partir daquele dia, vários bloquinhos dessa grande peça de Lego que me forma (bem grande) foram (e estão) se desencaixando. Cada uma no seu tempo, com a leveza ou a gravidade que precisa ter. Confesso que esse sim está sendo um maravilhoso exercício, um exercício natural e suave onde até a dor, que invariavelmente ele traz, é uma dor delicada e carregada de significados. Eu não estou me desfazendo ou me reconstruindo. Estou pacientemente me desmontando para criar algo novo, que eu não faço ideia do que será.
Desconstruir é necessário, é urgente. Acabei nem falando sobre isso e lendo tudo novamente parece que nem faz muito sentido nada do que eu disse. Mas há uns dois meses atrás eu vi um vídeo que muito provavelmente foi o responsável por eu ter aberto novamente esse porta aqui. Um vídeo que resume bem o significado de desconstrução, e se eu fosse resumir a ideia pra você seria algo mais ou menos assim: desconstrução é juntar Belchior, Emicida, Majur e Pabllo Vittar na mesma canção!
Eu gostaria muito de terminar dizendo que meu nome é Larissa, tenho trinta e poucos anos e que eu sou a Universal... isso facilitaria tudo, inclusive pra você. Mas ao invés disso, eu quero dizer, eu quero gritar que "ano passado eu morri, MAS ESSE ANO EU NÃO MORRO"!
Aconteceu então que estava voltando para casa. Conheci pessoas incríveis no meu antigo emprego e coisas igualmente incríveis me aconteceram (mas isso fica para outra postagem), mas o fato é que eu estava doente. Grande novidade! Mas essa maravilhosa doença que carrego dentro do meu cérebro desde criança resolveu se materializar sobre meu corpo, e esse excelente emprego que eu tinha ajudou muito a potencializar e, por que não dizer, dar o pontapé inicial.
Ainda voltando para casa. Então, nunca tive tantas crises de ansiedade e ataques de pânico em tão pouco tempo. Eu percebi que tinha algo muito, muito errado acontecendo e muito mais sério do que jamais foi. Fora isso, aquele meu descontentamento de sempre com as coisas todas foi ficando silenciosamente mais forte, até aquele fatídico dia em que eu quase caí da moto por conta dos buracos ao redor do terminal do Jardim Novo Mundo.
Eu gosto de pensar que o meu cérebro foi chacoalhado tantas vezes que quebrou, se rompeu. A cada novo buraco que os pneus passavam por cima, um parafuso a mais ia se desprendendo, uma certeza a mais ia se esfarelando e uma nova ideia ia se aproximando. Os óculos caindo dentro do capacete, meus dedos não alcançavam a embreagem nem o freio, meus pés não conseguiam ficar parados em cima dos pedais. Durante alguns segundos eu fiquei completamente cega de raiva, e isso foi ótimo, por que quando a visão voltou novamente tudo tinha mudado.
Cheguei em casa e disse: o que a gente ainda tá fazendo aqui? Por que ainda estamos aqui? Ela disse algo sobre dinheiro. Eu falei que não precisávamos de dinheiro, precisávamos de coragem. Precisávamos apenas parar de nos enganar, de dizer que vai melhorar um dia, que vamos conseguir juntar grana e fazer não sei o que. Isso nunca iria acontecer. E quando eu falo de coragem, me refiro a coragem que se deve ter para admitir isso. Admitir que às vezes precisamos desistir de tudo para começar a criar uma nova história. E sem culpas nem remorsos. E admitimos, naquela noite maravilhosa.
E a partir daquele dia, vários bloquinhos dessa grande peça de Lego que me forma (bem grande) foram (e estão) se desencaixando. Cada uma no seu tempo, com a leveza ou a gravidade que precisa ter. Confesso que esse sim está sendo um maravilhoso exercício, um exercício natural e suave onde até a dor, que invariavelmente ele traz, é uma dor delicada e carregada de significados. Eu não estou me desfazendo ou me reconstruindo. Estou pacientemente me desmontando para criar algo novo, que eu não faço ideia do que será.
Desconstruir é necessário, é urgente. Acabei nem falando sobre isso e lendo tudo novamente parece que nem faz muito sentido nada do que eu disse. Mas há uns dois meses atrás eu vi um vídeo que muito provavelmente foi o responsável por eu ter aberto novamente esse porta aqui. Um vídeo que resume bem o significado de desconstrução, e se eu fosse resumir a ideia pra você seria algo mais ou menos assim: desconstrução é juntar Belchior, Emicida, Majur e Pabllo Vittar na mesma canção!
Eu gostaria muito de terminar dizendo que meu nome é Larissa, tenho trinta e poucos anos e que eu sou a Universal... isso facilitaria tudo, inclusive pra você. Mas ao invés disso, eu quero dizer, eu quero gritar que "ano passado eu morri, MAS ESSE ANO EU NÃO MORRO"!
"Revide!"
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