# Aqui dentro há um longe imenso #
(Abrindo a porta, ela range, devagar e constante como o movimento. Abrindo, aberta. Sussurro baixinho: is there anybody here? Silêncio. Alguém aí?, insisto. Pé esquerdo, direito. Paro. Cheiro de gaveta, cheiro de guardado. ¿Alguien aquí? É bom falar línguas, nunca se sabe quando/se seu blog foi colonizado/invadido por falta de uso. Eu não sei falar russo. A poltrona ao lado da lareira se vira lentamente, lentamente, se virou. Ela está lá, da mesma forma. Cruza as pernas para o outro lado, toma mais um gole. Porque demorou tanto? Tudo bem, eu te explico. Cronologia... seria pedir muito? Seria.)
Facebook.
O Facebook é um lugar nojento, habitado pela escória, pela parte mais podre de cada um. Aquele lugar fede, é o esgoto da pior parte alguém que, claro, se sente totalmente à vontade para vomitar suas parvalidades (provavelmente essa palavra não existe) junto das outras tantas. É um horror. Dedicarei futuramente um laudo técnico constatando essas aberrações. Enquanto puder (conseguir) continuo longe. Para o "cheiro" de carniça não me alcançar.
Facebook.
O Facebook é um lugar nojento, habitado pela escória, pela parte mais podre de cada um. Aquele lugar fede, é o esgoto da pior parte alguém que, claro, se sente totalmente à vontade para vomitar suas parvalidades (provavelmente essa palavra não existe) junto das outras tantas. É um horror. Dedicarei futuramente um laudo técnico constatando essas aberrações. Enquanto puder (conseguir) continuo longe. Para o "cheiro" de carniça não me alcançar.
Andar.
Não, continuo na mesma. Talvez com alguns pequenos saltos para o homem, mas a humanidade nem sente nada. Um movimento retilíneo uniformemente variado a caminho de não sei onde ainda. Um caminhar sem encostar os pés no chão, sendo levada por uma força obviamente maior que minhas vontades e convicções. Andando parada. Caminhando inerte. Procrastinando com os pés.
Futebol.
Teve Copa.
Diploma.
Basicamente apenas um papel mesmo, que, aliás, ainda nem tenho nas mãos. Supostamente eu deveria sentir coisas e enxergar outras com outros olhos. Me sinto com uns óculos 3D nas mãos para assistir o próximo filme da sessão da tarde na minha TV de vinte e uma polegadas fabricada no começo dos anos dois mil. Tenho ainda algumas dúvidas, não estou bem certa, mas acho que não era pra ser assim.
Museu de grandes novidades.
A ideia é basicamente essa mesmo: o futuro repetindo o passado. Há muito anos escrevi um conto, me lembro bem, se chamava "O Gato". Aquela foi minha época renascentista. Eu escrevia deitada no sofá da sala vendo TV, escrevia almoçando, acordava com grandes ideias e a hora do banho então... mar de epifanias. O Gato fala essencialmente sobre como vemos as coisas sem enxergá-las. Bem, você não vai lê-lo mesmo, não é spoiler nesse caso. Falei sobre como eu passava todos os dias por uma determinada rua. Todos os dias, pelo menos duas vezes, indo e vindo. Um belo dia, à noite, me lembro bem, em cima de muro, entre umas folhagens, eu vi um gato. O bicho estava imóvel e se seus olhos não estivessem abertos e reluzindo a luz do poste e se sua cabeça não se movesse seguindo meus passos, eu poderia jurar que estava empalhado. Era um dos milhares de gatos que aquela vizinha tinha. Acontece que eu nunca o tinha visto até aquele dia. Questionei então sobre toda aquela baboseira de apenas olhar e não ver, ver e não enxergar... essas coisas que se escreve num conto quando se é adolescente. A questão é: e se o gato sempre esteve lá? Todos os dias ou na maioria deles? Como eu posso não ter percebido?
Naquela época eu ainda tentava entender o mundo, então tive um surto dos grandes quando vi esse tal de gato. Me questionei sobre várias coisas e bla bla bla, muito cansativo. Recentemente eu vi um gato. E percebi/notei/reparei (...) a presença de alguém que, de certa forma, sempre este por aqui. Então você vai comprar um carro. Você começa então a fazer constantes pesquisas sobre seu desempenho, valores, modelos, enfim. E ao sair na rua... adivinha? Não existe nenhum outro carro nas vias, apenas esse. Em todo lugar que você vá lá está ele. Pois é, nossa natural visão seletiva nos faz enxergar só o que queremos (entenda-se "querer" por "desejar", por ser "objeto de desejo", entende?). Agora, independente do tempo, independente do motivo, se algum dia eu disse algo que desabonasse o tal veículo de alguma forma (e pode ser desde "não gostei do porta-copos" até "eu mataria o idiota que gastar dinheiro com esse lixo"), pronto... eu provavelmente magoei/insultei alguém e também é bem provável que eu seja uma daquelas pessoas hipócritas "sem palavra". Não dá pra imaginar.
E independente do que qualquer pessoa (qualquer uma mesmo) pense a respeito das minhas "escolhas", eu posso fazer o que eu quiser porque eu simplesmente posso! (Eu não vou ser cretina em dizer que eu estou me fudendo para opinião de todas as pessoas; estou me fudendo para opinião de todas as pessoas exceto algumas das quais posso contar nos dedos. De uma das mãos.) Eu posso mudar meu voto no segundo turno, eu posso gostar mais de pipoca salgada amanhecida do que aquela feita na hora, eu posso decidir ir de ônibus mesmo tendo dinheiro para comprar uma nave espacial, eu posso amar e odiar a mesma pessoa, e sabe do que mais? Eu posso rever meus conceitos! Essa provavelmente é a parte mais dolorosa porque, você sabe, eu sou muito inflexível. É um pesadelo! Mas a questão não é o quão complexo e difícil é rever meus postulados e sim o fato de que eu POSSO revê-los! Mas quem disse que não? Mas é lógico que tudo é uma questão de conveniência [sic]! Nenhum conceito é revisto sem um gatilho. O que chamam convenientemente de conveniência, eu chamo de "chute". O ruim é que as novas conclusões que se chegam nem sempre são agradáveis. O que imediatamente me leva a uma outra coisa.
Amizade.
Eu provavelmente deveria... eu realmente deveria criar algo específico para esse tema, mas também quero ser tão breve quanto seus goles. É escocês? Sueco. Oh... bem. Pude comprovar que existe mesmo aquilo de "primeiras impressões" e, ao mesmo tempo, derrubar o postulado que diz que "são elas que ficam". É uma pena não poder devolver uma pessoa e trocar por outro objeto da loja ou pedir seu dinheiro de volta em até sete dias. Para pessoas deveria ser meses ou anos. As relações humanas são muito complexas, sabe? É impossível detectar rapidamente defeitos de fábrica em gente que atua e simula muito bem. E, mesmo quando esses defeitos são descobertos, existe uma imensa (e eu diria impossível) dificuldade em prová-los porque há essa altura já foi instaurado todo um contexto complexo e cheio de teias e ramificações e essas coisas todas. Não existem argumentos bons o suficiente capaz de retirar máscaras. Se elas estão lá há tanto tempo existe um motivo. Ninguém jamais conseguirá levar um Ator a vislumbrar seu disfarce, seu figurino na frente de um espelho. Supostamente a descoberta deve, impreterivelmente, vir de dentro para fora. Mas os Atores não se veem, não... o que projetam de si mesmos são ações intencionalmente maldosas desfaçadas dos mais variados tipos de canalhice e aberrações de caráter. Há que se conformar com o desprezível. Ele sempre deve continuar acreditando que é melhor que você, porque se por acaso tentar derrotá-lo... bem, você se tornará um deles.
Mas que bom então que podemos rever nossas escolhas. É bem simples. É só se afastar do objeto e assisti-lo de longe. É impressionante o que podemos ver com os olhos fechados (ponto de exclamação).
Nojo.
Eu jamais vou acreditar nisso. (Não deixa de ser uma lástima. Seria, inclusive, muito mais fácil se eu conseguisse acreditar numa coisa dessas, daria por encerrado e pronto. Mas não dá.)
Experiências palatares.
Sangue de unicórnio.
Política.
Sangue, vísceras, ódio, xenofobia e Marx, of course. E Nelson Rodrigues: "Hoje, o não-marxista sente-se marginalizado, uma espécie de leproso político, ideológico, cultural etc etc. Só um herói, ou um santo, ou um louco, ousaria confessar publicamente: — "Meus senhores e minhas senhoras, eu não sou marxista, nunca fui marxista. E mais: — considero os marxistas de minhas relações uns débeis mentais de babar na gravata"."
Recebi recentemente um e-mail muito gentil do Submarino me dizendo que como não compro livros há alguns meses que tal aproveitar esse cupom de desconto de 30%? Muito bom. E embora não tivesse dinheiro é lógico que cliquei no link. Foi bem na primeira página, nos primeiros itens que eu li aquele título. Aquilo me completou imediatamente. Era mais uma daquelas coisas das quais se diz mas porque é mesmo que eu não pensei nisso antes? É tão perfeito!... Eu jamais poderia pensar em algo melhor e por aí vai. A sinopse de nada me agrada, mas eu preciso urgentemente ter em minha estante um livro chamado "Aqui dentro há um longe imenso"!
Não, continuo na mesma. Talvez com alguns pequenos saltos para o homem, mas a humanidade nem sente nada. Um movimento retilíneo uniformemente variado a caminho de não sei onde ainda. Um caminhar sem encostar os pés no chão, sendo levada por uma força obviamente maior que minhas vontades e convicções. Andando parada. Caminhando inerte. Procrastinando com os pés.
Futebol.
Teve Copa.
Diploma.
Basicamente apenas um papel mesmo, que, aliás, ainda nem tenho nas mãos. Supostamente eu deveria sentir coisas e enxergar outras com outros olhos. Me sinto com uns óculos 3D nas mãos para assistir o próximo filme da sessão da tarde na minha TV de vinte e uma polegadas fabricada no começo dos anos dois mil. Tenho ainda algumas dúvidas, não estou bem certa, mas acho que não era pra ser assim.
Museu de grandes novidades.
A ideia é basicamente essa mesmo: o futuro repetindo o passado. Há muito anos escrevi um conto, me lembro bem, se chamava "O Gato". Aquela foi minha época renascentista. Eu escrevia deitada no sofá da sala vendo TV, escrevia almoçando, acordava com grandes ideias e a hora do banho então... mar de epifanias. O Gato fala essencialmente sobre como vemos as coisas sem enxergá-las. Bem, você não vai lê-lo mesmo, não é spoiler nesse caso. Falei sobre como eu passava todos os dias por uma determinada rua. Todos os dias, pelo menos duas vezes, indo e vindo. Um belo dia, à noite, me lembro bem, em cima de muro, entre umas folhagens, eu vi um gato. O bicho estava imóvel e se seus olhos não estivessem abertos e reluzindo a luz do poste e se sua cabeça não se movesse seguindo meus passos, eu poderia jurar que estava empalhado. Era um dos milhares de gatos que aquela vizinha tinha. Acontece que eu nunca o tinha visto até aquele dia. Questionei então sobre toda aquela baboseira de apenas olhar e não ver, ver e não enxergar... essas coisas que se escreve num conto quando se é adolescente. A questão é: e se o gato sempre esteve lá? Todos os dias ou na maioria deles? Como eu posso não ter percebido?
Naquela época eu ainda tentava entender o mundo, então tive um surto dos grandes quando vi esse tal de gato. Me questionei sobre várias coisas e bla bla bla, muito cansativo. Recentemente eu vi um gato. E percebi/notei/reparei (...) a presença de alguém que, de certa forma, sempre este por aqui. Então você vai comprar um carro. Você começa então a fazer constantes pesquisas sobre seu desempenho, valores, modelos, enfim. E ao sair na rua... adivinha? Não existe nenhum outro carro nas vias, apenas esse. Em todo lugar que você vá lá está ele. Pois é, nossa natural visão seletiva nos faz enxergar só o que queremos (entenda-se "querer" por "desejar", por ser "objeto de desejo", entende?). Agora, independente do tempo, independente do motivo, se algum dia eu disse algo que desabonasse o tal veículo de alguma forma (e pode ser desde "não gostei do porta-copos" até "eu mataria o idiota que gastar dinheiro com esse lixo"), pronto... eu provavelmente magoei/insultei alguém e também é bem provável que eu seja uma daquelas pessoas hipócritas "sem palavra". Não dá pra imaginar.
E independente do que qualquer pessoa (qualquer uma mesmo) pense a respeito das minhas "escolhas", eu posso fazer o que eu quiser porque eu simplesmente posso! (Eu não vou ser cretina em dizer que eu estou me fudendo para opinião de todas as pessoas; estou me fudendo para opinião de todas as pessoas exceto algumas das quais posso contar nos dedos. De uma das mãos.) Eu posso mudar meu voto no segundo turno, eu posso gostar mais de pipoca salgada amanhecida do que aquela feita na hora, eu posso decidir ir de ônibus mesmo tendo dinheiro para comprar uma nave espacial, eu posso amar e odiar a mesma pessoa, e sabe do que mais? Eu posso rever meus conceitos! Essa provavelmente é a parte mais dolorosa porque, você sabe, eu sou muito inflexível. É um pesadelo! Mas a questão não é o quão complexo e difícil é rever meus postulados e sim o fato de que eu POSSO revê-los! Mas quem disse que não? Mas é lógico que tudo é uma questão de conveniência [sic]! Nenhum conceito é revisto sem um gatilho. O que chamam convenientemente de conveniência, eu chamo de "chute". O ruim é que as novas conclusões que se chegam nem sempre são agradáveis. O que imediatamente me leva a uma outra coisa.
Amizade.
Eu provavelmente deveria... eu realmente deveria criar algo específico para esse tema, mas também quero ser tão breve quanto seus goles. É escocês? Sueco. Oh... bem. Pude comprovar que existe mesmo aquilo de "primeiras impressões" e, ao mesmo tempo, derrubar o postulado que diz que "são elas que ficam". É uma pena não poder devolver uma pessoa e trocar por outro objeto da loja ou pedir seu dinheiro de volta em até sete dias. Para pessoas deveria ser meses ou anos. As relações humanas são muito complexas, sabe? É impossível detectar rapidamente defeitos de fábrica em gente que atua e simula muito bem. E, mesmo quando esses defeitos são descobertos, existe uma imensa (e eu diria impossível) dificuldade em prová-los porque há essa altura já foi instaurado todo um contexto complexo e cheio de teias e ramificações e essas coisas todas. Não existem argumentos bons o suficiente capaz de retirar máscaras. Se elas estão lá há tanto tempo existe um motivo. Ninguém jamais conseguirá levar um Ator a vislumbrar seu disfarce, seu figurino na frente de um espelho. Supostamente a descoberta deve, impreterivelmente, vir de dentro para fora. Mas os Atores não se veem, não... o que projetam de si mesmos são ações intencionalmente maldosas desfaçadas dos mais variados tipos de canalhice e aberrações de caráter. Há que se conformar com o desprezível. Ele sempre deve continuar acreditando que é melhor que você, porque se por acaso tentar derrotá-lo... bem, você se tornará um deles.
Mas que bom então que podemos rever nossas escolhas. É bem simples. É só se afastar do objeto e assisti-lo de longe. É impressionante o que podemos ver com os olhos fechados (ponto de exclamação).
Nojo.
Eu jamais vou acreditar nisso. (Não deixa de ser uma lástima. Seria, inclusive, muito mais fácil se eu conseguisse acreditar numa coisa dessas, daria por encerrado e pronto. Mas não dá.)
Experiências palatares.
Sangue de unicórnio.
Política.
Sangue, vísceras, ódio, xenofobia e Marx, of course. E Nelson Rodrigues: "Hoje, o não-marxista sente-se marginalizado, uma espécie de leproso político, ideológico, cultural etc etc. Só um herói, ou um santo, ou um louco, ousaria confessar publicamente: — "Meus senhores e minhas senhoras, eu não sou marxista, nunca fui marxista. E mais: — considero os marxistas de minhas relações uns débeis mentais de babar na gravata"."
(Olho para os lados, tudo parece permanecer do mesmo modo, mas alguma coisa ainda está faltando. Com certeza não é minha fala, já disse tudo que deveria. Talvez seja um pouco mais de presença. Olho para o chão algumas vezes, como se tentando resgatar algo que não estivesse mais ali. Olho para ela, para o chão, para ela, para o chão, para a porta. Por algum motivo o silêncio não é constrangedor. Levanto, caminho até a porta, olho para ela. Seus olhos dizem ao mesmo tempo 'porque demorou tanto?' e 'será que volta logo?' Ela não diz nada, nem eu. Alguém precisa urgentemente lubrificar as dobradiças dessa porta.)
Recebi recentemente um e-mail muito gentil do Submarino me dizendo que como não compro livros há alguns meses que tal aproveitar esse cupom de desconto de 30%? Muito bom. E embora não tivesse dinheiro é lógico que cliquei no link. Foi bem na primeira página, nos primeiros itens que eu li aquele título. Aquilo me completou imediatamente. Era mais uma daquelas coisas das quais se diz mas porque é mesmo que eu não pensei nisso antes? É tão perfeito!... Eu jamais poderia pensar em algo melhor e por aí vai. A sinopse de nada me agrada, mas eu preciso urgentemente ter em minha estante um livro chamado "Aqui dentro há um longe imenso"!
É interessante isso de nunca mais termos nos falado, mas eu ainda vir te ler aqui, acho que é mais fácil lidar com você por aqui, e é impressionante como ainda consigo entender tudo, já tem algum tempo que ando querendo comentar, mas sempre paira a duvida, se isso é realmente necessário. Está anônimo pra que eu tenha impressão de não estar invadindo tanto teu espaço, como Mario Quintana disse ...Pra estar perto, sem pesar com a presença...
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